Embora já tenhamos abordado o
Índice P/L na
newsletter de 21/01/2008, vamos detalhar bem este assunto nesta semana, além de também explicar como se calcula o UPSIDE ou DOWNSIDE (potencial de valorização/desvalorização) de uma ação baseado no P/L.
Quando pensamos em Análise Fundamentalista, a primeira coisa que nos vem à mente são os balanços das empresas, projeções de faturamento, perspectivas setoriais e da economia. Tudo muito complicado quando o analista é o pequeno investidor, que até pode ter conhecimento contábil suficiente para ler um balanço, mas que dificilmente consegue ter acesso às projeções setoriais e da economia de forma satisfatória para um certo período de tempo que lhe interesse.
Tendo como foco o pequeno investidor, falaremos hoje sobre o mais utilizado índice fundamentalista de mercado, o
P/L ou Preço por Lucro. Este índice é o principal índice da análise fundamentalista por ser simples de ser calculado e simples de ser interpretado, sendo assim o mais utilizado por todos os investidores, quer sejam grandes, pequenos ou institucionais.
O Índice
P/L apura a razão
Preço por
Lucro de uma empresa. O preço é sempre o valor por ação que está cotado em bolsa, ou seja, o valor de mercado de uma ação da empresa. Da mesma forma, o Lucro é o lucro por ação, ou seja, o lucro líquido da empresa dividido pelo número total de ações.
O preço por ação, assim como o lucro por ação, podem ser conseguidos facilmente no site da Bovespa na internet ou no software
Trader Gráfico. Isto torna este índice acessível a qualquer investidor.
Por exemplo, se uma empresa está cotada em bolsa a R$ 10 por ação e possui um lucro projetado de R$ 2 por ação por ano, o Índice P/L será igual a :
O número 5 encontrado significa que o acionista terá hipoteticamente o valor investido na compra daquela ação de volta em 5 anos. Ou seja, um
retorno total sobre o investimento em 5 anos.
Uma vez que já sabemos o que é o Índice P/L, vamos agora tomar alguns cuidados sobre os dois parâmetros que o formam, o Preço e o Lucro:
- O Preço da ação é sempre o mais recente disponível, de preferência o último fechamento.
- O Lucro deve ser o lucro por ação projetado para o final do ano corrente.
Além disso, este índice parte de algumas premissas que não são verdadeiras, porém são importantes para nivelar as expectativas de todas as empresas da mesma forma, o que permitirá usarmos o Índice P/L como um comparativo entre empresas e não como um índice isolado de uma empresa como muitos imaginam. Dentre estas premissas podemos destacar:
- O cálculo do retorno é feito sob a afirmativa que todo o lucro é do acionista. Na prática apenas um percentual do lucro vai para as mãos do acionista.
- Admite-se que o lucro da empresa será constante. Obviamente isto pode ou não ocorrer.
- Não consideramos o efeito da inflação.
Vale a pena lembrar que caso a empresa dê prejuízo não é possível calcular o Índice P/L.
Agora que já sabemos como calcular o Índice P/L e também sabemos que a sua principal função é permitir que possamos comparar empresas de tamanhos e setores diversos, vamos entender como interpretar este índice na prática.
Quando calculamos o Índice P/L de uma empresa listada na Bovespa e encontramos o valor de 8, o que isto significa? Depois de ler o texto acima todos devem ter pensado: “são 8 anos para que o dinheiro investido na compra das ações retorne ao investidor”. Muito bom, porém a interpretação real deste número vai além disso.
Quando calculamos o Índice P/L de uma empresa e encontramos um número qualquer, a primeira coisa que devemos fazer é comparar este número com a média do mercado. Por exemplo, se encontramos um P/L de 8 para uma ação que compõe o índice Bovespa, o Ibovespa, a primeira coisa que devemos fazer é descobrir qual é a média do P/L das outras ações que estão no Ibovespa, pois só assim saberemos se o valor de 8 é pouco ou muito comparado com o mercado.
Um valor numérico puro e simples é inconclusivo, pois 8 pode ser um bom valor para uma pessoa e ao mesmo tempo ruim para outra. Já quando este valor é comparado à média de mercado chegaremos sempre à mesma conclusão. Se a média de mercado for 6, ou seja, as empresas normalmente possuem retorno de 6 anos sobre o investimento, uma empresa que dê retorno em 8 anos não é atrativa aos investidores, pois eles podem comprar outras ações com melhor retorno, logo eles venderão a ação de P/L mais alto e procurarão por outro investimento de P/L mais baixo. Quando os investidores vendem as ações que estão acima da média de mercado o seu preço cai, e se quando o preço cai o Índice P/L também vai cair até o momento que ele esteja no mesmo nível do mercado.
E se o P/L de uma empresa for menor do que o do mercado? Neste caso a empresa é mais atrativa aos investidores, pois o retorno sobre o investimento ocorre mais rapidamente. Quando isto ocorre os investidores começam a comprar esta ação e o seu preço começa a subir. Ao mesmo tempo em que o preço vai aumentando, o Índice P/L também aumenta, até o limite da média do mercado.
Esta lógica é aplicada diariamente na bolsa e faz com que os índices P/L das empresas estejam sempre se movimentando em busca da média do mercado.
Por exemplo, se o preço da nossa empresa hipotética aumentar de R$ 10 para R$ 15 por ação, o P/L aumenta e ela fica menos atrativa aos investidores:
(com a média de mercado em 6, esta ação será vendida e o seu preço cairá)
Já se o preço cair de R$ 10 para R$ 6 por ação, o P/L diminui e a empresa fica mais barata aos olhos dos investidores:
(com a média de mercado em 6, esta ação será comprada e o seu preço subirá)
E quando os preços ficam constantes?
Ocorre muitas vezes de a expectativa de lucro de uma empresa para o final do ano corrente mudar, ou seja, no resultado apurado do primeiro trimestre do ano, por exemplo, a empresa apresenta um lucro 100% superior ao mesmo lucro do ano anterior no mesmo período, sendo que este lucro foi gerado de forma limpa pela operação da empresa.
Quando isto ocorre, o lucro esperado para o final do ano sofre ajustes para cima e imediatamente o cálculo do P/L sofre uma alteração importantíssima, com um lucro maior o retorno ocorre em menos tempo, ou seja, o P/L cai. Quanto menor o Índice P/L melhor, então se ele cai de um dia para o outro por causa da mudança de expectativa no final do ano, o valor atual de mercado daquela empresa fica mais atrativo para os investidores do que as outras empresas. Todos começam a comprar e o número maior de compradores faz os preços subirem. Os preços vão subindo até um determinado patamar onde o P/L volta a entrar em equilíbrio com o mercado.
Por exemplo, se o preço da ação não muda, mas a expectativa de lucro no final do ano passa de R$ 2 para R$ 4 por ação, a empresa automaticamente fica muito mais barata do ponto de vista do tempo de retorno:
(com a média de mercado em 6, esta ação será comprada e o seu preço subirá)
Sempre que uma empresa possui um P/L menor que o do mercado, dizemos que ela possui um UPSIDE de valorização, ou seja, um incremento esperado em relação ao preço atual, designado em percentual, como segue:
Se o número encontrado acima for negativo, dizemos que a empresa possui um DOWNSIDE em relação ao preço atual, o que na prática representa um P/L maior do que o de mercado.
Voltando agora às nossas
premissas, percebam como não tem importância o fato delas estarem um pouco fora da realidade, pois como elas são válidas para todas as empresas, quando nós comparamos as ações pelo Índice P/L sempre saberemos se elas estão baratas ou caras em relação ao mercado. Este será o nosso primeiro argumento na decisão de comprar ou vender, que ainda dependerá de mais alguns fatores fundamentalistas, além de aliar sempre um pouco de análise gráfica na decisão.