Vamos continuar nossa série de newsletters ainda no tema do gerenciamento de posições, principalmente quando elas são grandes.
Quem espera encontrar aqui dicas para administrar clubes ou fundos de investimento está no lugar errado. O objetivo deste texto é ajudar os investidores a controlar suas operações pessoais, normalmente operações que geram renda e não as que simplesmente remuneram o capital a uma taxa de mercado. Ou seja, estamos falando sobre técnicas de manejo de risco extremo, que não são aplicáveis em carteiras coletivas, devido à sua exposição ao risco mutante.
Terminei a
última newsletter explicando como fazer para ir aumentando a sua posição minimizando o risco de devolver todo o lucro auferido no primeiro prejuízo pós-aumento (tópico 3. O tamanho das posições). É uma técnica chata de se fazer, pois se você precisa dela significa que ainda não tem todo o capital que deseja para operar da forma que planejou. Mas neste mercado não há espaço para discussões improdutivas, logo, vamos ao que interessa.
Muita gente acha que quando o
setup (estratégia operacional) certo for encontrado, não haverá limites para o montante a ser operado. Em outras palavras, muitas pessoas acham que o aumento do seu capital operado deve crescer mês a mês eternamente, até que você se transforme em um multi-milionário e tenha barcos, aviões e carros de luxo. Errado!
Um ponto que já abordei aqui foi o limite financeiro teórico que um
setup tem. Todo o
setup possui tal limite e quanto mais rápidas forem as suas operações, menor será este limite. Se você opera ações em
position (fica comprado por semanas ou meses), pode ter enormes quantidades de dinheiro (milhões de R$) alocadas em uma única operaçao, já se você opera em gráficos
intraday curtos (em operações de meia hora ou menos), não conseguirá ter posições maiores do que alguns milhares de R$. Isso é importante, saiba o limite financeiro do seu
setup e você saberá qual o tamanho limite de suas ordens.
Para exemplificar melhor toda esta teoria vou utilizar o
Top Hedger, ou apenas
TH, como exemplo a partir de agora. O TH opera apenas contratos futuros de Ibovespa, tanto faz se for mini ou cheio, e faz apenas uma operação por dia, mas sempre no
day-trade. Isso significa que a estratégia está limitada ao financeiro de um dia de pregão, algo como R$ 5 bilhões. Sendo este um volume infinito para os padrões de um investidor pessoal, o nosso limite financeiro será dado pelo tamanho do nosso capital.
Apenas para efeito de comparação, se o seu
setup realizar 18 operações por dia, ou uma operação (compra+venda) a cada meia hora, o pregão lhe disponibilizará no mercado atual um volume financeiro de R$ 60 milhões para diluir sua posição, pode parecer muito, mas com uma operação com 100 mini-contratos (você precisa de apenas R$ ~50 mil para ter 100 mini-contratos de limite operacional na corretora), você sozinho movimentaria quase R$ 2,4 milhões a cada
meia hora (R$ ~1,2 milhão por ordem), ou 4% de todo o giro financeiro do mercado. Se mais 25 pessoas resolverem operar como você dobraremos o volume da bolsa. Isto não parece racional, uma vez que temos milhares de pessoas operando para gerar o volume atual, e significa pura e simplesmente que a sua posição é grande demais para o mercado, ou seja, ou ela não será executada em sua totalidade ou você terá um efeito de slippage (diferença entre o preço que você deveria operar e o preço efetivamente operado) devastador em seu
setup. Na prática você vai descobrir que a posição está muito grande quando o
setup começar a perder dinheiro em vez de ganhar e, então, você será forçado a reduzir o tamanho da sua posição.
O exemplo acima desmonstrou como é fácil se perder no tamanho das ordens e girar muito mais dinheiro do que se pensa. Por isso é importante definir a frequência das suas operações, pois daí teremos o "colchão" de liquidez adequado ao
setup.
Voltando à operação pelo TH, uma vez que o volume financeiro de um dia de pregão é enorme, o seu capital é quem dará o limite financeiro das suas operações. E aqui entra uma decisão importantíssima, talvez a mais importante da sua vida na bolsa:
Qual o tamanho das operações que você deseja manter em bolsa no longo prazo?
Não vale escolher "o máximo possível", pois isso não faz sentido, todos nós temos um número de conforto relacionado à renda variável. Lembre-se que aqui estamos em um mercado de risco, não é renda fixa, portanto quanto maior a posição, maior o risco.
Vou abrir um parênteses para explicar uma coisa simples sobre os mercados futuros. Eles operam alavancados, ou seja, você precisa ter uma pequena parte (1/30) do dinheiro que vai operar. Por isso que no exemplo acima com R$ ~50 mil foi possível operar R$ ~1,2 milhão em cada ordem. É um mundo totalmente diferente das ações do mercado à vista, onde você opera o que tem ou, no máximo, alavancado 5 vezes. Nos mercados futuros a alavancagem chega a 30 vezes ou mais.
Suponhamos que você queira operar por vários meses no TH a quantidade fixa de R$ ~50 mil (algo em torno de 100 mini-contratos de Ibovespa Futuro). Então você vai colocar todos os dias esse valor à disposição do mercado, com o objetivo de ganhar mais dinheiro. Quando o seu
setup é vencedor, isso vai ocorrer, você vai ganhar, mas ao contrário do que muitos pensam, não é interessante reinvestir os lucros no
setup eternamente. Você só reinveste até chegar na sua posição desejada (no caso aqui os R$ 50 mil), uma vez que você já estiver operando o volume financeiro que entende ser "adequado", você deve estabilizar a quantidade das suas posições e
sacar os lucros excedentes todos os meses.
Acredito que muitos nunca pensaram nesta hipótese, mas é assim que funciona. Dinheiro na conta das suas operações é dinheiro em risco, você acabará usando os ganhos anteriores como "gordura" e passará a correr mais risco em novas operações. Estatisticamente isso aumenta as suas chances de perder o que ganhou. É semelhante ao que ocorre nos cassinos, onde a pessoa ganha e aposta o que ganhou, sempre com a ganância a incentivando, achando que no próximo lucro
ficará rico. Cada vez que você ganha, você diminui as suas chances estatísticas de ganhar novamente e aumenta as chances de perder e, por mais que a maioria das pessoas odeie estatística, ela funciona.
Conclusão: Terminou fevereiro no azul, com lucro? Dia primeiro de março saque o lucro. Uma parte dele deverá ser pago ao
Imposto de Renda, o resto é seu, invista ou gaste-o no que quiser, mas mude-o de mercado, mesmo que seja para comprar ações.
E mantenha sua posição constante ao longo dos meses assim que possível. É sabido que haverá meses em que você não terá lucros, então se você souber acumular o capital ganho nos meses anteriores, isto não será problema. Já se você "gastar" o capital ganho com "apostas" mal feitas em outros
setups perdedores, ou até em operações manuais sem fundamento, no mês em que o seu
setup lucrativo falhar, e este mês vai chegar, você terá que puxar recursos de outros lugares para recompor a sua posição ou terá que simplesmente diminuir a sua posição e recomeçar o árduo trabalho de aumentar a posição mês a mês.
Não sei porque, mas é fato que as pessoas são ótimas em ganhar dinheiro para recuperar prejuízos, então as pessoas vivem perdendo e ganhando, perdendo e ganhando, mas se elas começarem a ganhar e ganhar, acabam arrumando motivos para perder o excedente e voltar para o dinheiro original.
Freud deve explicar isso, mas como são queremos nos aprofundar tanto assim, queremos "apenas" ganhar dinheiro, saque o execedente assim que possível e tire-o da sua contabilidade mental. Esta é a melhor forma de ser ganhador de forma perene como
trader/investidor pessoal.
Até a próxima.